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setembro 02, 2017

Partida

Vou embora.
Dói porque eu sinto com toda a minha alma. Eu não desprezo nenhuma parte dela. Mas vivo em um microambiente em que qualquer valorização da alma é pecado.
Há resistência de todos os lados ao pensamento. Há que se sufocar a razão a qualquer custo, a fim de se evitar os conflitos. Absolutamente toda discussão é mal vista. A humanidade do homem torna-se objeto de repúdio e a existência inteira é só passagem esvaziada de significado.
Sei, ainda, que a palavra falada exige o domínio das pulsões. Que mesmo a razão está sujeita à doçura. Não há crescimento sem confronto, como também não há sem o amor. A maturidade combina o pensamento livre à serenidade. E eu não sou serena.
Eu sou inquieta. Indignada. Indomável. Eu sei do desespero da minha alma sufocada e isso é tudo o que eu sei. Eu explodo em lágrimas e em revoltas, e não acrescento ao crescimento de quem está perto de mim. E eu lamento muitíssimo.
Um dia eu vou alcançar o equilíbrio de mim mesma. Não por mim. É porque eu sei que a Palavra é capaz de me desfazer e reconstruir, e eu não vou me apartar dela. Neste dia, eu juro, eu voltarei. Não pense que eu vou julgando saber demais. Pelo contrário. Eu preciso aprender tudo, ainda.
Mas eu espero encontrar um lugar - a uma distância segura - que acolha as minhas contradições. Um lugar que apascenta a angústia de um coração limitado em que foi colocado o infinito. Um lugar aberto aos vôos do pensamento, do logos e da imaginação: isto é, um lugar em que a expressão da alma não é desprezada por ser vaidade, porque, afinal, tudo é.
Tudo é vaidade.