Eu não sei mais escrever. Não sei
mais me expressar de modo algum. Tudo se foi. Minhas paixões, alegrias, sonhos,
expectativas... Ter tudo é não ter o que
ganhar.
Eu só queria poder colocar para
fora esta bagunça, eu queria uma catarse. É exaustivo guardar tantos resquícios
de crises passadas e não resolvidas.
É que para cada nova vontade de
explodir houve um novo episódio de alguma série na TV. Para cada nova
necessidade de gritar houve um amigo virtual disposto a me arrebatar da
realidade e me levar para qualquer outro lugar. Para cada nova vontade de
reagir houve uma hora livre para passar com a cabeça enfiada de baixo de um travesseiro,
chorando, pensando, adormecendo e esquecendo-me logo em seguida. Para cada nova
crise há uma nova distração.
E vivendo assim, acorda-se,
trabalha-se, vive-se sem razão, com uma droga de sorriso estampado num rosto
pálido e entediado, para evitar as perguntas e os atrasos com os quais não
queremos mais lidar depois dos dezoito. Talvez a distração seja, depois da
ignorância, a maior das dádivas. Ou talvez ela esteja somente me fazendo acumular
sentimentos que terão que sair à força, algum dia. Lamento que esta segunda hipótese
seja tão mais verossímil que a primeira.